COLUNA

LUCIANA MARTINS

A Experiência da Criança: Parte 3

 

“Onde tem criança, temos imprevisibilidade.”

E isso não é algo que me incomode e assuste – mas cansa. Em 10 anos de fotografia nunca fiquei sem foto ou precisei desistir de uma sessão. Porém, literalmente já “suei a camiseta” e precisei usar todos os recursos possíveis para garantir fotos de uma sessão.

Nos deparamos algumas vezes com pequenos que não querem tirar foto naquele dia, que amanheceram mal-humorados, que estão fazendo birra, com ciúmes do irmão, dentre tantas situações. Criança pequena ainda está aprendendo a regular suas emoções e sentimentos e não temos como exigir prontidão nesse sentido, ainda mais num momento atípico e fora da rotina de vida: o momento das fotos.

Os adultos que teriam a habilidade de regular suas emoções apresentam comportamentos instáveis em situações como essas, porque geramos expectativas tão altas quanto às crianças?

A criança que chora ou está resistente à foto leva automaticamente os pais a uma sensação de descontentamento ou angústia e passam a se questionar se aquilo vai dar certo. Para o fotógrafo, cabe a serenidade. O famoso jogo de cintura entra aqui e vou dizer que é praticamente um CrossFit. A base do desenvolvimento é dar voz à criança, convidando-a a colaborar com ideias, dizer o que gostaria de fazer. Estratégias como mudar o foco, trazer outros cenários, mudando de ambiente podem ajudar. Procurar por flores, contar borboletas, procurar desenhos nas nuvens, assoprar um dente de leão.

@lucianamartinsfotografia

Promover situações engraçadas ou consideradas “arte” no dia a dia são estimulantes. As famosas bagunças normalmente dão bons resultados, pois carregam a sensação do “dia livre”, do “dia do sim”. O pai normalmente desenvolve brincadeiras com mais energia que podem ser bem-vindas nesses casos.

Crianças mais velhas podem querer contar histórias, compartilhar experiências. Ouvi-las e dar importância para o que dizem valoriza sua presença naquele momento. Elas podem querer colaborar de alguma forma específica e apenas estão se sentindo excluídas.

Um método que uso com muita frequência é convidar a criança para fotografar. Chamo ela para meu lado e carinhosamente mostro como enxergamos a fotografia na câmera.

Chamamos a mamãe pra fazer pose, o papai para abraça-la e pá! Nossa pequena querida faz fotos da sua família. É um momento gostoso dela sentir o poder de clicar, de ver quem ama na foto que fez.

Quando tudo isso parecer não ter os resultados esperados, afaste-se. Dê espaço. Talvez a família só precise de espaço. Lembre-se, à distância também é possível realizar registros muito interessantes do momento de acolhimento. Podemos nos surpreender.

Tranquilizar a família e se aproximar da criança é o mínimo que podemos ofertar. Para finalizar e altamente importante: não julgar. Por mais difícil e desafiador que seja, tenhamos a clareza que cada família tem seus costumes, formas de educar, de acolher. Podemos gentilmente sugerir, interagir e nos afastar se assim for necessário. Entretanto em nenhum momento temos liberdade de substituir ou nos sobrepor às condutas parentais, mas conduzir com estratégias, de forma leve e atrativa a sessão.

 



Luciana Martins
Fotógrafa de família, lifestyle e documental
Santa Maria/RS
lucianamartinsfotografia.com
COLUNISTA LATITUDE

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