Caminho para a Autenticidade: Encontrando sua voz e sua visão na fotografia
Vou começar falando que definitivamente não enxergamos através dos nossos olhos. Acredito que os nossos olhos são apenas a última etapa para esse processo.
Uma das perguntas mais feitas por fotógrafos que buscam respostas fora de si é: “Mas como ele(a) fez aquela fotografia?” Vou te falar o que penso sobre essa pergunta. Pare de perguntar isso e de querer fazer o que o outro faz, de criar ídolos ou supervalorizar os outros. Pergunte-se “como faço a minha fotografia?” Não pode ser sobre o outro, tem que ser sobre você mesmo. Mas se realmente quiser saber como ele fez, saiba que, primeiro ele usou dos princípios técnicos que todos temos acesso. E sinceramente, penso que para dizer-se profissional, o mínimo é entender a técnica. Que tipo de médico seria um médico que não dedicou o seu tempo a estudar o corpo humano para depois o tratar? Que tipo de fotógrafo é aquele que não dedicou o tempo a estudar para depois retratar?
Há poucos dias me perguntaram como eu direcionava e criava as poses em famílias, foi a pergunta de 10 pessoas em um workshop e vou explicar detalhadamente como eu construo uma fotografia de família e todas as outras. Espero que através dessa visão que te mostrarei, você entenda melhor sobre ser a sua própria referência sem precisar copiar nada de ninguém, entenda também, que não é para o colega de profissão que fotografamos ou para sermos vistos, pois quando fizemos isso perdemos a nossa força e a nossa visão, e você já pensou que talvez o melhor esteja com você e você não consegue perceber por estar olhando para o lugar errado.
Primeiro, respeito e aceito aquela família que chegou até mim para ser fotografada. Chamo cada pessoa da família pelo nome (nada de paizinho e mãezinha, isso é terrível na comunicação). Aprendi que o nome é o som mais agradável ao ouvido humano, então aprendi técnicas para gravar de todas as pessoas envolvidas.
A respeito da iluminação ou da luz que iluminará a fotografia, penso nela como o sol. Apenas defino a hora do dia que estará iluminando aquela família.
Sim, dentro do estúdio, o que faço é apenas imitar a luz do sol que já faz parte de mim desde que eu nasci e é a mais bela de todas, é a luz de Deus.
Mas quando fotografo uma família, a coisa mais importante de todas é entendermos sobre o que é ter e ser uma família, o que um pai ou uma mãe pode representar na vida de uma criança ou adolescente. Então, começo fotografando todos juntos, construo uma pose e depois peço para que façam pequenos movimentos e intuitivamente e naturalmente, as poses vão desconstruindo-se e construindo-se e, em meio a isso, eu apenas observo os movimentos e fotografo cada um deles, pois é neles que moram as verdades daquela família.
Entendo que cada filho é único e tem o seu próprio lugar dentro daquele contexto familiar. Então, fotografo só com seu pai, só com a sua mãe e com os dois, formando uma trindade e digo despretensiosamente: “ele é único”, “você é único”. E é neste momento que acontece a inclusão, é ali que mora a força de cada pessoa, com o pai à sua direita, que representa o sucesso financeiro de um filho, e a mãe à sua esquerda, que representa o sucesso como um todo daquele filho. E este retrato será a sua força.
A família é sistêmica, nela existe hierarquia. O pai vem primeiro, ele é provedor, é força, é pilar. A mãe vem depois, ela é amor, é fonte de vida, é feminilidade. Cada filho tem o seu lugar, há uma ordem a ser respeitada. O filho mais novo não pode tomar o lugar do mais velho, e nenhum filho pode tomar o lugar dos pais. Cada um tem o seu lugar no contexto familiar, as dores, os desentendimentos e as dificuldades moram onde não há ordem.
Entendo que a minha visão pode alterar a realidade e, com respeito, discrição e muita gratidão por aquela oportunidade, busco traduzir a minha visão na fotografia e levar aquela família a um novo olhar sobre ela mesma. E é aí que transformações acontecem, e elas acontecem abaixo do nível de consciência, e assim eu cumpro o meu papel com aquela família e faço uma fotografia única e exclusiva.
É sobre como posso ajudar. É sobre se as pessoas que chegam até mim saem edificadas, saem melhores do que chegaram. É sobre dar um novo olhar, sobre ressignificar, sobre resgatar.
Em cada palavra, sim, porque as palavras que proferimos durante a sessão tem poder e os sentimentos que despertamos genuinamente nas pessoas fotografadas ficam gravadas em cada fotografia, junto a cada pensamento que ela possa ter naquele instante. Então, se naquele instante ela se sentir especial, inclusa, aceita, respeitada, amada, ela terá a sua força em um retrato. É sobre sentir, é sobre querer, é sobre doar.
O caminho é longo e não há tempo a perder. Você não encontrará a sua melhor fotografia olhando para os lados e querendo copiar ninguém. A sua força está em ser quem você é. Então, mergulhe em você, olhe para a sua família, perdoe seus pais, olhe para seus antepassados, inclua a ordem e o amor em sua vida. Assim, será muito mais fácil fotografar o belo, e ele só se manifestará quando sua mente e seus olhos estiverem livres de medos, crenças, mágoas e ressentimentos. Esses sentimentos são como vendas em seus olhos e anestesiam o seu coração. O caminho é longo e profundo, muitas vezes escuro, mas vale a pena percorrê-lo apenas para ver e viver o que há depois.
É na simplicidade, na atividade e na leveza que a criatividade se manifesta, e por isso tem este nome, pois vem do Criador de tudo, que é Deus!
Até a próxima!
Simone Di Domenico
Fotógrafa Social
www.simonedidomenico.com.br
COLUNISTA LATITUDE