Proteção à infância: qual o limite da exposição?!
A fotografia é uma preciosa ferramenta para garantir o registro histórico de famílias. São tesouros que ficarão como herança e documento para tantas gerações. As fotos sejam registros pessoais ou profissionais, sempre carregam consigo uma motivação para sua realização. Perceber nesse contexto que muitas imagens são para fins de arquivo pessoal, para apreciação íntima é de grande valia, visto que vivemos uma era digital onde há o descontrole do destino de tudo aquilo que se submete à rede.
A fotografia de família, principalmente documental, cresceu exponencialmente ganhando destaque no âmbito profissional. Isso é uma grande conquista para nós profissionais. Porém, devemos nos observar e estar sempre em constante análise sobre nossa obra produzida, no sentido de preservação da intimidade dos retratados. Muitos momentos são registrados, mas é preciso compreender e decidir quando esses devem apenas ser destinados a arquivo pessoal.
Fotografias mais íntimas e de momentos “cômicos”, adversos, impactantes normalmente se destacam dentre tantas outras. Porém, nem toda imagem deve ser exibida como troféu.
A fotografia de família não é uma corrida desenfreada por prêmios e destaques.
Nossa missão é outra, é garantir imagens relevantes que contem histórias vividas. É deixar um arquivo emocional de valor para as crianças dessas famílias. Como iremos contar essas histórias, cabe a nós decidirmos juntamente com nossos clientes.
No papel de fotógrafa de família percebo a necessidade de tocar nesse assunto. Não apenas nós profissionais, mas as famílias também devem compreender os riscos da exposição de imagens. Não somente o risco imediato, mas também as consequências a longo prazo.
Preservar a intimidade, principalmente das crianças, é um dever de suas famílias e que se estende a nós. As crianças ainda não possuem percepção de mundo para decidir sobre a publicação ou não de uma imagem. Cabe a nós adultos decidir por essa exposição.
Criança, acima de tudo, merece proteção, respeito e a garantia disso tudo deve ser provida pelos adultos que a cercam.
Levanto aqui a necessidade de reflexão e discussão acerca de um assunto tão delicado e polêmico, porém necessário.
Vamos compreender que essas crianças irão crescer e que se agirmos por ego e no calor da empolgação, estaremos contribuindo com feridas que podem não cicatrizar. Infelizmente a exposição nas redes nem sempre tem um final feliz. Vivemos tempos difíceis.
Aliciadores facilmente encontram crianças, há uma rede de consumo erótico fortemente implantada, sem contar episódios, muitas vezes inofensivos, de bullying.
A autoestima das crianças está em desenvolvimento e maturação, podendo ser afetada facilmente pelo rompimento de certos limites e laços de confiança.
Convido a todos que reflitam sobre a validade e o valor de cruzar certas linhas. Talvez também seja o momento devido de olharmos com mais carinho ao simples, ao singelo e ao ordinário.
Não precisando assim buscar sempre impactar para ser notório.
Que o visceral é intrínseco quando falamos de fotografia documental, não tenho dúvida, mas saibamos conduzir e direcionar essa energia, extraindo o melhor para todos no final de tudo.
Luciana Martins
Fotógrafa de família, lifestyle e documental
Santa Maria/RS
lucianamartinsfotografia.com
COLUNISTA LATITUDE