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COLUNA

EVANDRO VEIGA

Inicio minhas colunas aqui na Revista Latitude com uma série originária de meu site pessoal/profissional.
Um estudo de personagem e ao mesmo tempo, um exercício útil para qualquer fotógrafo que deseja se tornar um retratista realizado.


Série: Homem – A Fisionomia de uma Idealização

Milagres, grandes feitos e incontáveis ensinamentos. Um personagem que carrega uma grande sobreposição mítica e mesmo a dois mil anos de distância , suas histórias ainda são contadas numa atmosfera de fé e de devoção crescentes.

De forma residual, tudo o que o cerca emana bondade, perdão e desapego. Instruções claras para que seus semelhantes próximos tivessem noção de valores simples mas fundamentais para uma existência pacífica e próspera no que diz respeito a interpretação positiva da vida a sua volta.

Passados dois milênios, de alguma forma sempre quando ouvimos ou lemos sua trajetória, nossos pensamentos materializam sua forma, rosto, seu caminho nas mais variadas ruelas da Galiléia.

 

Como seria então o seu rosto? 

Caucasiano, talvez loiro escuro com olhos claros… Talvez um homem típico do oriente médio (diriam os mais céticos de sua forma européia de apresentação já comum).

O fato é que Yeshua (Jesus em aramaico arcaico) ao longo dos anos foi idealizado de muitas formas e essa tentativa de descrevê-lo e desenhá-lo nos deixou um legado na memória: seguramente ele teria cabelos compridos, olhar benevolente e semblante esguio, um homem magro e provavelmente (e quase sempre) sereno.

Sempre pensei sobre o assunto e durante minha vida encarei essa imagem sempre com poucas mudanças.

Mas recentemente lendo sobre antropologia e fatos marcantes da humanidade como guerras e grandes reconstruções, como milhares de pessoas percebi que apesar de tudo que passamos, ainda conservamos antigos hábitos sociais.

Vivemos em grupos para nos fortalecer não para caça e busca por alimentos, mas para nossa arma mais atual e livre: nossas poderosas e sublimes opiniões que muitas vezes são usadas (vejam vocês) como armas e não como ferramentas ao qual acredito ser seu propósito inicial.

A última ceia, Leonardo Da Vinci

Mas o que isso tem a ver com Jesus e o retrato?

Essas armas foram usadas por ele como ferramentas de reflexão. Um homem que segundo relatos tinha intenções nobres de união e confraternização. Um homem muito a frente do seus dois milênios de história, que usou palavras para ensinar o que acreditava ser o paraíso na Terra e quem sabe, na próxima.

O Pantocrátor do mosteiro de Dafne

Opiniões ou ensinamentos, sempre acreditei nesse homem, sem milagres ou magias, apenas opiniões, palavras reforçadas com exemplos que mudaram vidas.

Um homem seguramente simples em suas verdades absolutas que ganhou seguidores, poucos em seu início, inúmeros nos nossos dias.

Foi pensando assim que há muito tempo quis retratar sua fisionomia baseado em relatos do livro que o perpetuou.

A série de três retratos intitulada Homem – A Fisionomia de uma Idealização, é meu ponto de vista na forma de retratos que seguem a risca algumas passagens do livro da Bíblia (Novo Testamento) ao qual não tenho a pretenção de dar cunho religioso, mas apenas materializar na forma fotográfica o que acredito, o que gostaria de fotografar caso tivesse uma máquina do tempo.

 


 

 


O estudo:

Conforme o livro de Matheus, capítulo 26/versículo 36, Jesus convidou seus seguidores para ir até um jardim chamado Getsêmani (arredores de Jerusalem), onde costumavam orar.

Nota: O fundo escuro traz a ideia de noite e solidão pontuado com uma luz que pode ser interpretada como luz da lua com uma possível e não tão distante tocha para iluminar o espaço usado para a oração.

Antes de ser capturado, Jesus rezou para Deus e as frases relatadas na bíblia (existem muitas traduções) para descrever essa momento foram utilizadas para iniciar a pose do retrato:

(Matheus 26:38) – Disse-lhes então: “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem comigo”.

(Matheus 26:39) – Indo um pouco mais adiante, prostrou-se com o rosto em terra e orou: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres”.

Nota: Com medo, Jesus pede a Deus que afaste dele aquele perigo de violência e possível assassinato (o que ocorreu como previu). Por mais sereno e sábio, ele era humano e provavelmente seu semblante era de angústia (conforme relato bíblico em Matheus 26:38 – acima descrito).

Olhar para baixo (no retrato) foi uma forma de pensar na dor física que teria de suportar.
Suas sobrancelhas ficaram tensas (oblíquas) denunciando temor e fraqueza. Por alguns minutos em Getsêmani Jesus pode ter sentido essas sensações tão inatas a todos nós numa situação limite.

Em Matheus 26:41 Jesus diz:
“Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca.”

Nota: Aqui fica evidente sua extrema preocupação em face a agressividade de seus raptores.

Segundo a continuidade dos fatos relatados, Jesus é capturado (Matheus 26:47) numa cena que ficaria famosa conhecida como o beijo de Judas (próximo retrato desta série tratará do momento seguinte a esse beijo).

 

Reflexão final:

É dessa forma que imagino este momento.
Com meu jeito de pensar, com minha bagagem e sem nenhuma intenção religiosa ou opinião baseada em motivações ideológicas.
Apenas segui o que li e interpretei de forma estética com fotografia de retrato.

 

Para fotógrafos:
Canon Mark ll
100mm Macro IS
ISO 400
AV 7.1
Velocidade 1/250

 


Evandro Veiga
Fotógrafo Retratista
Instagram: @evandroveiga
COLUNISTA/CEO LATITUDE

1 Comment

1 Comment

  1. Jeuanderson

    31/10/2023 at 06:40

    Que leitura sublime. Não sei se estou mais impactado com a descrição de como chegou ao retrato ou com o retrato em si. Parabéns, mestre Veiga. Te adimirandi mais ainda.

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