COLUNA

LUCIANA MARTINS

Transição de Carreira:
Chegou o meu momento?

Os sonhos e realizações profissionais circundam o nosso imaginário. Lá na nossa juventude, quando precisamos decidir o caminho a trilhar, são fatores diversos que nos encaminham para uma escolha. Essa, na maioria das vezes, o início de uma graduação. Tais escolhas acontecem normalmente por influência familiar ou aptidões e habilidades.

Muitos casos são definidos por expectativa financeira, acreditando que tal profissão nos traga bons resultados. Porém, o que ninguém nos conta, é que após enfrentar um mundo com um diploma em mãos, nos deparamos com adversidades, incompatibilidades e frustrações.

Compreender o processo e entender se aquilo é uma fase de inadequação ou de fato algo que não serve pra si é uma jornada de autoconhecimento profunda. Trouxe agora esse assunto, justamente inaugurando esse espaço que foi confiado a mim, como colunista da presente Revista, pois essa foi a minha história.

A compreensão de que eu ocupava um espaço que não era meu. Foram longos 13 anos de dedicação profissional, com infinitas tentativas de conexão do meu eu com aquelas oportunidades profissionais que se apresentavam a mim.

Escolhi a Nutrição com total convicção do que queria. Fui uma excelente estudante universitária, com muitos projetos de pesquisas, apresentações em congressos e bolsas de pesquisa. Eu amava com todas as minhas forças aquilo que fazia. Contudo, a vida real, fora da universidade e fora dos livros me feriu.

Não encontrava a valorização e o reconhecimento que julgava importante existir. Não haviam expectativas de melhores remunerações, não sentia fazer a diferença na vida das pessoas. Não sentia satisfação e brilho no olho. Era um pesar. Era dolorido enfrentar aquela rotina desgastante e angustiante. Me sentia prisioneira e não conseguia aceitar que era aquilo que a vida me reservava.

Um dia uma pessoa que cruzou meu caminho num dos estabelecimentos que trabalhei me disse: “Nossa profissão não nos define”.

Nunca mais encontrei essa pessoa e nem imagino onde estaria hoje. Essa pessoa não imagina o impacto dessa frase para mim. Passei a observar mais a vida fora daquele caos, onde eu me encontrava.

Quando me vi gestante senti muita vontade de estudar fotografia, para poder fotografar minha filha. Não imaginava que tal decisão seria determinante na minha vida. Rapidamente passei a realizar pequenos trabalhos para pessoas próximas e naturalmente as indicações foram acontecendo. Durante 2 anos, atuei como nutricionista, fotografando de forma paralela nas horas livres.

O desgaste foi enorme, pois reuni um puerpério, o retorno ao trabalho (que eu não gostava) e a grande novidade, a fotografia. Nesse intervalo de 2 anos busquei conhecimento, frequentei congressos, workshops. Ferozmente busquei por aprimoramento e produzi muito. Num dado momento olhei pra dentro e compreendi que minha história como nutricionista de fato havia se encerrado. Não havia mais espaço praquilo na minha vida. Era hora de vestir a coragem.

E aqui entra mais uma frase que eu mesma verbalizei: “basta termos uma atitude corajosa para que portas se abram”.
Daquele dia em diante, nunca me faltou trabalho. As portas sim se abriram.

Compartilho isso, pois muito se ouve sobre o medo de viver apenas da fotografia. Inúmeros profissionais de desgastam, se dividem e geram turnos extras incessantes de trabalho para dar conta da sua profissão de formação e da fotografia. Uma coisa é certa, você só não sabe o que é viver exclusivamente da fotografia, porque não tem tempo para viver exclusivamente da fotografia.

Deixar o “certo pelo duvidoso” como muito se fala é inerente a situação. Entretanto, a organização, o planejamento e a entrega de alma faz com que tudo se torne mais palpável. Enquanto se tem duas profissões paralelas é o momento de traçar metas, organizar as finanças e abastecer o tanquinho de coragem de determinação.

Seria muito irresponsável simplesmente estimular uma decisão tão séria como essa. Porém, deixo aqui a reflexão que ninguém prospera no caos, na tristeza, na insatisfação.

Nossa autoestima equilibrada, realização pessoal e sentimento de pertencimento são base para um bom desempenho profissional.

Trabalhamos arduamente por longos anos da nossa vida e isso deve ser compensador.

Merecemos nos encontrar em nossas carreiras e nos satisfazer naquilo que produzimos. Assim, entregaremos ao mundo nosso melhor com a certeza de fazermos nossa parte.


Luciana Martins
Fotógrafa de família, lifestyle e documental
Santa Maria/RS
lucianamartinsfotografia.com
COLUNISTA LATITUDE

1 Comment

  1. Ubirajara Martins

    23/10/2023 at 21:16

    Parabéns minha filha! Você merece! Te amo!

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