Por Equipe Latitude
Segundo Vilém Flusser, a câmera funciona como uma “caixa preta”, guiando nossas escolhas sem que a gente perceba. Será que estamos realmente criando ou apenas seguindo um sistema pré-determinado?
Descubra mais sobre essa filosofia que ainda hoje faz a gente repensar a forma como enxergamos o mundo!
Vilém Flusser e a fotografia na era tecnológica:
◉ O Olhar da Câmera, o Pensamento do Filósofo
Em um mundo onde as imagens se multiplicam em um ritmo vertiginoso, refletir sobre a essência da fotografia torna-se uma necessidade urgente. Vilém Flusser, um dos mais instigantes pensadores da contemporaneidade, lançou luz sobre essa discussão em seu livro “Filosofia da Caixa Preta”, uma obra que continua ressoando na era digital. A fotografia, segundo Flusser, não é apenas um registro da realidade, mas um sistema código-programático que redefine nossa relação com o mundo. Mas até que ponto essa perspectiva ilumina ou obscurece nossa compreensão da imagem?
◉ Fotografia: Criatividade ou Programação?
Flusser argumenta que a câmera fotográfica funciona como uma “caixa preta”, um dispositivo programado para gerar imagens dentro de um conjunto limitado de possibilidades. Dessa forma, o fotografo não cria de maneira espontânea, mas opera dentro de uma matriz pré-determinada pelo aparelho.
Esse ponto de vista levanta questionamentos pertinentes: seria a fotografia uma expressão criativa autônoma ou um produto de um sistema tecnológico que conduz o olhar humano? Para Flusser, a resposta está na forma como o usuário do equipamento lida com suas possibilidades. Dominar a “câmera-programa” significa transcendê-la, libertando-se das convenções embutidas em seu funcionamento.
◉ A Crítica ao Fotógrafo Autônomo
A obra também desafia o conceito romântico do fotógrafo como um gênio criador. Para Flusser, ele é, muitas vezes, um executor de funções programadas pela própria tecnologia. A verdadeira liberdade fotográfica estaria, então, na capacidade de manipular as regras do jogo e não apenas seguir os ditames da câmera. Isso nos leva às redes sociais e à fotografia digital, onde a inteligência artificial e os algoritmos guiam as imagens que consumimos diariamente. Se antes Flusser previa uma fotografia dominada pelo sistema técnico, hoje vivemos essa realidade de forma amplificada.
◉ A Caixa Preta Hoje: Expansão ou Limitação?
O conceito da “caixa preta” de Flusser ganha uma relevância ainda maior na era dos smartphones e das câmeras automatizadas. Com filtros predefinidos, reconhecimento facial e ajustes automáticos, a fotografia tornou-se uma atividade guiada por padrões preexistentes. Mas seria isso necessariamente negativo?
Se, por um lado, a tecnologia padroniza a fotografia, por outro democratiza o acesso à produção de imagens. Nunca antes tantas pessoas puderam registrar e compartilhar suas visões de mundo. Esse paradoxo coloca a fotografia em uma encruzilhada: será que, ao facilitar o registro da realidade, a tecnologia está nos afastando da verdadeira compreensão visual?
◉ A Filosofia Continua
Flusser nos provoca a repensar o papel da fotografia em um mundo cada vez mais visual e automatizado. Sua análise, escrita décadas atrás, permanece assustadoramente atual. A “caixa preta” da fotografia evoluiu, mas os dilemas centrais permanecem: quem controla a imagem? O homem ou a máquina?
Diante desse cenário, cabe a cada um de nós decidir como interagir com a fotografia: como consumidores passivos ou como criadores conscientes, desafiando os limites do sistema. E você, caro leitor, já parou para pensar sobre o que está por trás das imagens que captura?
REDAÇÃO LATITUDE
