Equipe Latitude
Na fotografia esportiva, tem algo que não se compra, não se aluga e, com sinceridade, não se ensina em curso nenhum: o faro.
Sim, técnica é essencial. Uma câmera rápida, uma lente certeira, o domínio da luz e do foco — tudo isso ajuda. Mas quando o jogo vira, quando o salto acontece, quando o corpo voa por um segundo que mal dá tempo de respirar, é o instinto que dispara primeiro.
Esse faro não é uma habilidade mágica, tipo um superpoder de herói dos quadrinhos.
Ele nasce de convivência, de “ouvir” o esporte. De sentir o clima antes da largada.
De perceber o silêncio que precede o impacto. É como se o fotógrafo entrasse em sintonia com um ritmo invisível — algo que só aparece pra quem parou de olhar e começou a sentir.
Parece um papo muito filosófico?
Pode até parecer, mas depois que a técnica é domidada, o algo a mais começa a atuar.
“Pensar já é chegar atrasado. O instinto age primeiro, a mente vem depois.”
Em esportes de velocidade, se tu pensar demais, perdeu.
O clique bom não espera seu raciocínio terminar. Ele vem de um gesto automático, quase corporal — tipo quando a câmera já está no rosto e o dedo já disparou antes mesmo de tu entender o que está acontecendo. É corpo e sensibilidade juntos, no mesmo passo.
Mas calma: faro também pode errar.
E é aí que ele aprende. Cada clique perdido, cada segundo mal cronometrado, cada imagem que não deu certo… tudo isso constrói o “radar” silencioso que um dia vai acertar o momento exato.
“O faro não é inspiração divina, definitiavamente.”
Quem fotografa esportes como surfe, skate ou motocross sabe que não existe roteiro fixo. A coisa muda o tempo todo. A câmera precisa estar sempre pronta, como se fosse uma extensão do corpo. Fotografar nesses ambientes é quase uma dança no escuro — você não vê o que vai acontecer, mas sente quando vem.
E não se trata de sair clicando a esmo. Muito pelo contrário.
A maturidade do instinto está em saber esperar.
Saber que nem todo momento vale o clique. O que vale mesmo é aquela explosão certa, aquela fração de segundo que parece fazer o tempo parar.
“Saber o que ignorar é tão importante quanto saber o que capturar.”
E talvez o mais difícil de tudo: vencer a ansiedade. Porque num evento gigante, onde tudo acontece ao mesmo tempo, a tentação é disparar sem parar. Encher o cartão de memória. Mas foto boa não é quantidade. Foto boa tem intenção.
Com o tempo, quem cultiva esse olhar invisível entende que não está ali apenas para capturar corpos em movimento. Está registrando histórias. De esforço, de falhas, de vitórias improváveis. Está congelando pequenos pedaços de sentido no meio do caos.
E é aí que a fotografia vira vício porque cada clique certo é a prova de que, mesmo quando tudo parece um turbilhão, ainda dá pra encontrar um ponto de equilíbrio.
Um recorte de verdade.
REDAÇÃO LATITUDE
