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A Exclusividade é uma Armadilha?

Nesta entrevista, Jonathas Guerra, CEO da plataforma de venda de fotografias e vídeos Banlek, discorre sobre – segundo ele – “o modelo desvantajoso disfarçado de segurança e exclusividade” e propõe uma reflexão direta sobre esse tipo de contrato na carreira de quem vive da venda de fotografia com a estratégia de vendas de inversão de risco.

Acompanhe abaixo a entrevista:

 



🛑 LATITUDE: Quando afirma que plataformas que fazem contrato de exclusividade não querem que o fotógrafo cresça, você está denunciando o modelo predatório disfarçado de parceria. Pode aprofundar esse pensamento?

 


“A plataforma de venda de fotos que pede exclusividade pro fotógrafo não quer vê-lo crescer porque no meu pensamento, não acho correto pedir exclusividade porque quero que o fotógrafo trabalhe com a gente e trabalhe com todas as outras, aonde ele conseguir ter resultado. Eu acho que é interessante.

Então, definitivamente, a plataforma que pede exclusividade pro fotógrafo não quer que ele tenha mais resultado. Não quer que ele cresça. Acho que isso é muito ruim.

Eu quero – como o CEO da Banlek – que mais fotógrafos usem nossa plataforma. Eu tenho interesse nisso, obviamente.
Mas eu não quero que ele deixe de usar outras plataformas, que eles possam ter mais resultados em conjunto com a Banlek.
É sobre criar o melhor ambiente possível, sempre ouvindo e evoluindo com propósito real e querer realmente que cresçam na profissão.

É também por isso que a gente não pede exclusividade.
E novamente: eu acho que plataforma que pede exclusividade não quer ver o fotógrafo crescer. Usa o fotógrafo como meio, massa de manobra.”


🛑 LATITUDE: Na sua visão, o que as plataformas realmente ganham ao manter o fotógrafo preso a contratos de exclusividade?
Estamos falando de controle criativo, financeiro ou os dois?


Eu acho que pode ser os dois — criativo e financeiro — mas eu acho que é principalmente exclusão.
Eles querem exclusividade pra que o fotógrafo não utilize outra plataforma, goste, fique.

Exemplo: se há um evento que a Banlek não está presente, e tem outra plataforma nesse evento, eu não tenho coragem de pedir pra ele não ir. Isso não seria certo e iria contra nossos valores.

Não quer que ele evolua, não quer que ele tenha mais resultado, não quer que ele ganhe mais. Que é no fim das contas a exclusão financeira.


🛑 LATITUDE: Há espaço pra convivência ética entre plataformas e fotógrafos ou o modelo de exclusividade já nasce em conflito com a liberdade criativa?

 

O modelo de exclusividade já nasce atrelado à falta de liberdade, não é mesmo?!
A plataforma que nasce pedindo para o fotógrafo ser exclusivo, faz um contrato com ele, não quer que ele trabalhe com outras plataformas onde ele tem mais oportunidades. Então, elas querem que ele ganhe menos, e ela só quer que ganhe com ela.

 

🛑 LATITUDE: Quais são os impactos reais que tu observa na carreira do fotógrafo quando entram num contrato de exclusividade? Eles crescem ou estacionam?

 


Estacionam.
Além de estacionar, eles ainda às vezes perdem faturamento, deixam de ganhar e acaba que essas plataformas são boas em convencer o fotógrafo a assinar esses contratos. Fotógrafo assina um contrato sem entender muito de jurídico às vezes, e faz com que ele entre no que a gente chama lá no Rio de Janeiro de “rabuda” — uma coisa ruim.

 

🛑 LATITUDE: Existe uma romantização da segurança oferecida por contratos exclusivos que, na verdade, mascara uma dependência que pode ser perigosa pra autonomia do fotógrafo?

 

É muito perigoso porque se o fotógrafo assina com uma plataforma pra ter exclusividade, ele tá abrindo mão de todas as outras.
E hoje existem uns cinco players no mercado disso e na minha visão, o fotógrafo pode trabalhar com todas — e deve.

 

🛑 LATITUDE: Por fim, se tivesse que enviar uma mensagem direto aos fotógrafos que hoje estão atrelados a contratos de exclusividade, diretamente qual seria?


Cancelem os contratos de exclusividade
que têm hoje porque eles têm mais malefícios do que qualquer outro benefício.

 

 

Jonathas Guerra – Banlek

 


 

Conversamos com um fotógrafo social de Canoas/RS que não aceitou trabalhar sob contratos de exclusividade (não quis se identificar) e perguntamos qual foi o motivo pelo qual ele não continua nesse sistema, confira:

Equipe Latitude:

Qual foi o motivo principal que te levou a não optar pelo contrato de exclusividade com plataformas digitais de venda de fotografia?

Fotógrafo: Olha, um dos principais motivos foi que, quando decidi trabalhar com fotografia, eu quis ser livre de certas amarras que o mercado impõe. Vi colegas passando por isso e resolvi questionar a plataforma: por que eu deveria ser exclusivo?

Eu já tinha uma carreira de 10 anos em outras áreas da fotografia. A fotografia esportiva era mais uma das frentes. Então, me parecer exclusivo para uma plataforma, independente do job, não fazia sentido.

Cheguei a dizer: “Se é pra eu ser exclusivo, assinem minha carteira, me dêem os equipamentos.”
Sabe qual foi a resposta? Nenhuma.
Me ignoraram completamente.

Fiz até uma analogia: se eu compro um carro de R$ 100 mil pra ser motorista de aplicativo, uma empresa pode me proibir de usar outros apps? Claro que não. O investimento é todo meu! Por que, então, com a fotografia seria diferente?

Equipe Latitude:

E qual seriam os benefícios de exclusividade?

Fotógrafo: Pois é… nenhum benefício claro. Eu teria que ser exclusivo, mas eles não me garantem. E ainda temos que disputar espaço em eventos com 10, 15 ou até 50 fotógrafos, todos concorrendo na pós-venda.

Equipe Latitude:

E seus colegas, o que pensam sobre o assunto?

Fotógrafo: Conversei com alguns. Em um ponto a gente até concorda: se a plataforma estiver patrocinando um evento específico, aí tudo bem exigir exclusividade para aquele evento. Porque ela está investindo, aparecendo nos banners, nos sites, redes sociais. Aí é justo.

Agora, exigir exclusividade em todos os nossos trabalhos, inclusive naqueles em que corremos atrás por fora, aí não dá. Já vi gente sendo banida da plataforma por postar trabalhos que não estavam ligados a ela — tipo um casal em Caxias, que provavelmente foi denunciado por um “colega” e acabou banido da plataforma.

E reforço: se querem exclusividade, então assinem minha carteira, paguem bem, me deem equipamento, comissões melhores e estabilidade. Não dá pra sair às 6 da manhã, tomar sol, chuva, e ainda deixar 35% do valor final na plataforma.



⚠️ Fica então o convite a uma reflexão importante sobre os contratos de exclusividade no mercado da fotografia.

Eles prometem segurança e estabilidade ou levantam questionamentos sobre liberdade profissional, crescimento e autonomia?

Se você tem contrato de exclusividade e quer apontar seu ponto de vista, envie um email para nós em contato@revistalatitude.com

 


REDAÇÃO LATITUDE

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